Um olhar sobre a Filosofia Indígena e a Complexidade da Vida, de Cristine Takuá


Assim como a chuva molha a terra e as plantas florescem, nós caminhamos semeando sabedoria em nossas crianças e jovens, seguindo os ensinamentos de nossos antepassados. Sabemos que atualmente vivemos uma emergente e complexa crise ambiental, a qual nos leva a questionar e a repensar o ser e o saber, resultando numa conscientização de que temos que reaprender a pensar e agir no mundo. No entanto, os seres humanos numa incessante busca de compreensão, dominação, ordenação e controle sobre o meio e sobre si mesmos, acabaram por desestruturar a natureza e acelerar o seu desequilíbrio.

A capacidade de apreensão de informação concernente a certas regularidades da natureza faz com que os seres humanos se relacionem com o meio de forma diferente dos outros seres, à medida que utilizam
essas regularidades, ou padrões, para a busca do conhecimento e da transformação do mundo. A criação de um universo artificial, que tem suas raízes na tradição científica ocidental, constitui a evolução de uma significativa parte da humanidade que se relaciona com a natureza nos moldes científico-mecaniscistas, no que se refere à criação e transformação da informação ao longo da história. Hoje, essa história abriga todas as consequências que a ação humana tem causado na natureza.
Para refletirmos sobre os problemas que caracterizam nosso tempo, devemos partir do pressuposto de que somos parte de um todo vivo e nossa mente não está excluída da natureza, mas se encontra integrada a ela no complexo universo informacional da filosofia indígena, a qual muitos desconhecem, ou cuja existência simplesmente negam.

É necessário um retorno da humanidade à natureza, colocando todos os seres vivos em um mesmo patamar, no qual todos estão ligados, se relacionam, interagem entre si numa imensa Teia. Pois ao longo da história o que a ciência fez foi fragmentar, dividir, separar tudo, baseada no desenvolvimento das capacidades, no padrão da racionalidade, resultando, atualmente, no afastamento dos seres humanos em relação à natureza.

Que razão é essa que a tudo transforma, modifica?  O que pretendemos com essa demasiada Razão?

Esses questionamentos já permeiam a mente inquieta de muitos, mas é necessário ir além do pensamento, além da razão, e enxergar os verdadeiros pressupostos que estruturam o conhecimento. Para nós, Povos Indígenas, que vivemos e conhecemos a floresta, e temos na nossa cultura a base da ciência e da sabedoria, nela estruturamos nosso caminhar. Através da Educação e da ampla conscientização, buscamos olhar o horizonte com autonomia e verdade. Mas não uma educação nos moldes ocidentais, mas sim num sentido mais amplo de educar, que coloca o Bem-Viver, ou Teko Porã, como base estrutural.
Uma forma de educar que faz brotar os sonhos, que lança sementes de esperança, fazendo cada um mergulhar dentro de si mesmo, pois o verdadeiro ensinamento vem de dentro para fora, eis aí a delicadeza e profundidade da filosofia indígena. A sabedoria dos nossos antepassados nos mostrou e nos mostra como é possível ser sustentável e viver em harmonia com os outros seres ao nosso redor. Basta abrir os olhos para os sonhos, praticá-los e enxergar a realidade que habita para além das aparências.

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