Aldeia Indígena en Maricá- RJ

Aldeia indígena


Quem me acompanha sabe que tive uma linda experiência em uma aldeia indígena Guarani, em Maricá - RJ estado do Rio de Janeiro  - Brasil.
Os índios guaranis ainda preservam muito sua cultura e costumes. Comunicam-se por meio da sua língua materna, que é absolutamente indecifrável para nós, não índios, que não estudamos linguística.

A aldeia indígena não é aberta ao público e ao turismo; somente mediante autorização das lideranças das tribo.


O centro da aldeia é composto por um campo de areia onde são feitos seus rituais, danças e jogos. As casas estão em volta desse campo, uma ao lado da outra, de barro e palha. 

As casas são simples e não contêm nenhuma mordomia, claro, dentro dos nossos padrões. Algumas sem divisões internas e apertadinhas oferecem redes ou esteiras no chão para dormir. A comida é feita ao lado de fora de cada casa, em uma espécie de fogão à lenha, junto com bichos, terra e crianças.



Percebi o tanto que ligamos para a opinião alheia. O quanto deixamos de fazer o que gostamos ou desejamos experimentar por medo do julgamento do outro, do olhar de desaprovação. As amarras sociais nos prendem mesmo, e só nos damos conta quando nos vemos em situações como essa.

Nos prendemos tanto à aparência e menos às energias, à empatia pelo outro. Vivemos em prol da estética, egocêntricos e vaidosos. Não respeitamos as diferenças, pensamos de forma hierárquica e agimos da mesma forma nas nossas atitudes. São tantas coisas que nos prendem ao comodismo que sair do usual, sair da inércia, não é e nunca será fácil. A questão é que nós pensamos assim, e não significa que os demais também compartilham do mesmo sentimento ou da mesma visão de mundo.

Não ver tantas semelhanças dentro de uma sociedade é incrível e confuso ao mesmo tempo. Não estamos acostumados a ver que nem todos estão presos à questões sexuais ou que o julgamento perante o outro é inerente à qualquer pessoa… É possível, sim; é outra dinâmica de funcionamento. A questão é que estamos muito longe de qualquer vivência semelhante. Onde será que nos perdemos? Onde deixamos tanta coisa “pura” ir embora.
Enfim, devaneios à parte, o tempo pra eles é outro, assim como o olhar para a vida. Tem muito mais pureza, mais leveza.


Outros sentimentos e impressões

Outra coisa que foi muito intenso foi perceber claramente o quanto estamos desconectados de nós mesmos. A nossa vida nos afasta dos momentos com nós mesmos, em que paramos pra escutar nossa respiração, nossos batimentos cardíacos, nossos sentidos, nossa paz interna.
Para a maioria das etnias indígenas, isso além de normal é essencial para a saúde e para a conexão divina. É comum ver vários indígenas sozinhos em um canto, apenas observando o balançar das árvores, ouvindo o canto dos pássaros, vendo a terra voar no campo de areia.

Cada dia mais nos afastamos do natural e nos embrenhamos na tecnologia, no trabalho, no fora e não dentro. Quando paramos pra observar os pássaros, tomar um banho de cachoeira ou mar em uma praia vazia, nos conectamos com nós mesmos e com a Terra. Sentimos de onde viemos e para onde vamos quando passarmos dessa pra melhor….

Percebi também o quanto não respeitamos os saberes dos mais velhos. Agora o que nos vale são as informações das instituições, da ciência, dos jornais. Pouco importa o que nossos avós faziam quando estavam doentes, ou quando estão tentando nos ensinar algo. Afinal, já estão ultrapassados, né?
Pois índio respeita demais os anciãos, que são considerados mestres. Um senhor sabe quando ele tem que fazer uma queimada para evitar que, na seca, a queimada natural tome proporções enormes. Uma senhora sabe qual erva usar pra sanar diversas doenças, tocando a barriga de uma mulher grávida sabe qual posição o bebê está, às vezes até qual o sexo. São verdadeiras parteiras… E hoje tanta gente pagando muito para ter um parto humanizado em casa, porque o natural agora é caro.
Reconhecemos esses saberes deles/as? Não…. De nada nos serve, infelizmente, e isso é um dos sinais que contribui para a invisibilidade desse povo. A falta de reconhecimento e de valorização da sua cultura e dos seus conhecimentos parece pouco, mas é parte da nossa contribuição para o aniquilamento deles.


Quando um ancião fala na aldeia indígena, todos têm um respeito absurdo. A propriedade com que eles falam, ensinam e questionam é impressionante. As histórias de lutas por sobrevivência e manutenção de suas terras e costumes são de doer o coração. Poderíamos aprender tanto com esses valores…


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