O filme “Martírio”, de Vincent Carelli, Ernesto de Carvalho e Tatiana Almeida mostra a resistência ao genocídio dos índios Guarani Kaiowá.



Documentando o massacre sofrido, ao longo de séculos, pelos índios Guarani-Caiowáa, o veterano cineasta Vincent Carelli coloca na ordem do dia a construção da narrativa e a questão da visibilidade social.


Premiado no Festival de Brasília 2016, “Martírio” é o segundo documentário de uma trilogia assinada pelo veterano Carelli, cujo primeiro capítulo foi “Corumbiara” (2014) – sobre um massacre indígena em 1985, no sul de Rondônia –, que se completa com um filme a ser lançado, “Adeus capitão”. Iniciado em 1986, esse futuro filme gira em torno das indenizações a tribos em função da instalação de grandes projetos, em Marabá, sul do Pará.


Os temas dos três filmes são distintos, mas têm em comum a intenção de resgatar a história indígena, insistentemente escondida, adulterada, vilipendiada em séculos da suposta civilização. Nada mais eloquente desse processo do que “Martírio”, em suas 2h40 de duração enumerando diversos episódios da saga de resistência dos Guarani-Caiwoáa.


Recorrendo a materiais filmados por ele mesmo desde 25 anos atrás e também a preciosos materiais de arquivo, Carelli – com a colaboração de Ernesto de Carvalho e Tita – situa muito bem a expropriação das terras desse povo, mencionando a Guerra do Paraguai, o ciclo do plantio do mate, as intervenções do Marechal Rondon e de Getúlio Vargas, chegando até o momento atual. Um momento de impasse, em que os índios, cansados da eterna indefinição da demarcação, empenham-se de maneira não raro heroica por retomadas pontuais de seu território, independentemente da violência e das mortes sofridas.


Um dos aspectos mais contundentes de “Martírio” está nas imagens de políticos – como uma comissão do Senado que tratou da discussão sobre a PEC 215, que traria para o Congresso a palavra final sobre demarcações de terras indígenas -, que demonstram à perfeição a gravidade desse conflito. Ou seja, o contraste entre as reivindicações dos índios diante de latifundiários da chamada “bancada do boi”, avessos a qualquer concessão aos indígenas e no mínimo coniventes com a violência que leva ao seu extermínio.



(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)


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