Projeto de São Vicente leva o teatro a aldeias indígenas Companhia Histórias do Baú visitou o Parque Estadual Xixoá-Japuí


Aproximar dois mundos tão próximos geograficamente, mas ao mesmo tempo distantes culturalmente é o objetivo do projeto A Oca do Curumim, da conceituada companhia de teatro Histórias do Baú, de São Vicente. Iniciado, ontem, no Parque Estadual Xixová-Japuí, em São Vicente, próximo da Ponte Pênsil, o programa visitará outras 11 aldeias indígenas até março.
Contemplado com o Programa de Ação Cultural (ProAC), com uma verba de R$ 80 mil, A Oca do Curumim passou pela sua primeira prova de fogo, em São Vicente, comenta Amauri Alves, idealizador da Histórias do Baú, que está em atividade desde 1994.
“Não sabíamos como seria esse primeiro encontro. É a primeira vez que levamos uma atividade como essa para uma aldeia. E eles foram muito receptivos. Agora, iremos para outras 11 aldeias, todas no Vale do Ribeira, onde firmamos uma parceria com a Funai (Fundação Nacional do Índio)”, explica Alves, que conta com dois atores e contadores de história no projeto.
A parceria da Funai com a Histórias do Baú consiste em fazer contato com as aldeias e acompanhar as atividades in loco. “Não esperávamos esse coral deles no fim da atividade. Foi uma surpresa muito grata. Mostra que podemos desenvolver outras atividades aqui no futuro, algo mais de formação”, comenta, ao citar a apresentação de um coral de crianças e jovens da aldeia de São Vicente, que tem 92 pessoas morando lá.
Iniciativa quer promover o intercâmbio cultural
(Foto: Nirley Sena)
Daniela, 19, e Lidiane, 16, duas das participantes do coral, destacaram a ida da companhia para a aldeia. “Gostamos muito. 
Espero que eles retornem mais para cá”, disse a primeira. “Foi muito legal. Quero mais aqui”, completou a segunda, visivelmente tímida.
O desafio ficará ainda maior nas aldeias do Vale do Ribeira, onde Alves terá que contar com intérpretes fazendo tradução simultânea durante as apresentações. “Aqui, eles falam bem o português, mas nas próximas aldeias encontraremos pessoas que não utilizam muito o idioma”.
Um dos pontos mais interessantes do projeto é o retorno final das atividades. Em São Vicente, logo após o término do espetáculo, uma equipe de audiovisual coletou depoimentos do público, além das principais lideranças da aldeia, como o pajé (sacerdote da tribo) e o cacique (chefe e orientador dos índios).
“Retornaremos para apresentar os espetáculos nas cidades onde estão instaladas as aldeias. Ou seja, teremos o espetáculo e depois os depoimentos para as crianças brancas”.
Lideranças agradecem
O cacique Dida Karaí falou da importância de fortalecer a cultura guarani indígena. “Quando falamos com as pessoas, elas pensam que é algo novo, mas não é. Existem lendas, histórias, mas a cultura vive. É importante continuar para dar visibilidade”.
Karaí conta que muitas das lendas indígenas permanecem vivas apenas na cabeça do pajé. “Elas existem desde o início. A gente nasce com a lenda e vai até o fim. Ela continua enquanto o indígena vive. Quem pode explicar melhor são os pajés e as mulheres mais idosas. A lenda passa de geração em geração”.
O pajé Karaí Tenondé reforçou o discurso do cacique. “É importante dar visibilidade para as nossas crianças. Elas nunca viram esse teatro. Passamos as lendas, com o nosso idioma, na casa de reza (local de realização de rituais religiosos)”. 
As demais aldeias que o projeto visita são: Peguao-ty (Sete Barras), Takuari (Eldorado), Itapu Mirim (Registro), Pindo (Pariquera-Açú), Araçá-Mirim (Pariquera-Açú), Guavirá-Ty, Jeji-Ty e Itapuã (Iguape), Tapy-i, Takuari-ty e Pakuri-ty (Cananéia). 
Mãe e filho durante o encontro na aldeia de Xixová-Japuí, em São Vicente (Foto: Nirley Sena)

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